Acumuladores compulsivos: entenda o transtorno psíquico que faz com que as pessoas não consigam se livrar de objetos e como fazer para lidar com o problema
Problema psíquico pode afetar cerca de 4% da população mundial e é caracterizado pela fobia de colocar qualquer coisa fora

A história dos Collyer pode ser exagerada, mas ajuda a entender um problema psíquico que afeta cerca de 4% da população mundial e é caracterizado pela fobia de colocar qualquer coisa fora. A pessoa passa a ficar dependente do que adquire, a tal ponto de não se desfazer de nada.
— Este é um tema pouco explorado pelas pesquisas científicas, e ainda não há critérios claros para diagnosticar esta patologia — afirma o psicólogo Raymundo de Lima.
Porém, como identificar alguém que tem o distúrbio?
O "transtorno de colecionamento", como é denominado pelos psiquiatras, pode ser caracterizado por uma série de fatores. Especialistas afirmam que, antes de tudo, é importante distingui-lo do colecionismo normal, não patológico. O transtorno não deve ser diagnosticado se os itens são colecionados exclusivamente enquanto realizando um hobby (como coleção de selos ou outro tipo específico de colecionamento), se o comportamento não resultar em um ambiente doméstico bagunçado ou se não causar sofrimento ou comprometimento significativos.
— Em comum, há a negação do problema: dificilmente, os pacientes admitem que guardam coisas em excesso. O tratamento é de difícil solução, com uma resposta não muito acima dos 30% de cura — afirma o psiquiatra Ygor Ferrão.
Ferrão afirma, ainda, que há uma vergonha e constrangimento muito grande em quem acumula, o que limita muito a vida social. O transtorno pode, ou não, vir associado a outros sintomas do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e à doenças como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar.
Por trás desta doença, habitam sentimentos como a ansiedade, o medo, o arrependimento e a frustração, entre vários motivos. A doença funciona como uma mórbida auto compensação de algo que aflige o doente.
— É uma doença que vai evoluindo com o tempo. A maioria não sabe especificar quando começou a ter o vício de acumular — diz Ferrão.
Apesar da maioria dos casos surgir nos idosos, esta desordem também pode afetar pessoas mais novas, em ambos os sexos.
Por dentro da doença
:: A acumulação compulsiva — também chamada de disposofobia — consiste na aquisição ou recolha ilimitada de bens ou objetos que já foram colocados no lixo. As pessoas que sofrem desta perturbação, maioritariamente idosos, acumulam tudo o que podem para mais tarde conseguirem dar uma resposta eficaz a uma "eventual emergência". Além disso, são incapazes de descartar objetos ou bens mesmo quando eles são inúteis, perigosos ou insalubres.
:: A acumulação compulsiva também é conhecida como Síndrome de Miséria Senil ou Síndrome de Diógenes, devido ao filósofo grego, Diógenes de Sinope — que vivia como um mendigo, dormia num barril e recolhia da rua inúmeros objetos sem valor.
:: O acumulador compulsivo no seu extremo é por vezes apelidado de "colecionador de lixo", uma vez que reúne objetos que produzem maus cheiros, atraindo insetos e roedores. Essa pessoa também poderá juntar livros, revistas, ferramentas, recipientes, metais, móveis, eletrodomésticos, entre outros materiais, correspondendo à imagem dos sem-abrigo que juntam todo o tipo de velharias.
:: A acumulação pode ser um dos sintomas de uma doença mental, um transtorno de ansiedade que muitos especialistas afirmam ser um transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Trata-se de uma perturbação que é definida por três características principais: a coleção obsessiva de bens ou objetos que parecem inúteis para a maioria das pessoas, a incapacidade de se livrar de qualquer um dos objetos ou bens recolhidos e um estado de aflição ou de perigo permanente. Alguns estudos demonstraram que a acumulação compulsiva é vista em apenas 24% dos pacientes com TOC, embora durante muito tempo fosse considerado típico deste transtorno.
:: Tal como a maior parte dos comportamentos obsessivos, a acumulação compulsiva começa de uma maneira lenta e desenvolve-se de uma forma progressiva. A doença pode ser um indicador de um enorme sentido de responsabilidade ou medo de errar, pois é uma forma das pessoas se auto pressionarem para fazerem tudo bem feito.
Fonte e texto: Daniela Santarosa - daniela.santarosa@zerohora.com.br