Quantos amigos você tem?
Pois ele tem 587 amigos no Facebook. Quase 300 seguidores no Twitter. Caixa de entrada sempre lotada de e-mails. E quem vem para jantar? Ninguém. Pois não houve sequer convite. Houve apenas uma leve vontade e um plano esquecidos na mesma gaveta onde jazem contas pagas. Algumas reclamações sobre solidão e amizades de aparência. Um esperar por que lhe procurem. Houve apenas a ideia utópica de que amizades seriam como sementes que caem ao acaso de um caminhão e tornam-se - também ao acaso - plantas viçosas em rachaduras do asfalto.
Parece batido que amizade precisa de paciência, disposição e dedicação. Mas é batido e bonito e entendido em textos que lemos, nas novelas e filmes que assistimos ou que preferimos não assistir. Porque a teoria é compreensível e a prática, impraticável. Qual seriam mesmo os motivos? Falta de tempo, inversão de prioridades, limites quase inaceitáveis de uma procrastinação aleatória. Porque é mais cômodo sentir um despontar de dor ao compartilhar apresentações no PowerPoint - também batidas - que falam do valor de um amigo e outras coisas nostálgicas e altruístas, a lembrar de ligar para um amigo sem motivo aparente. Sem que haja algo trágico ou maravilhoso para contar. Só ligar. Ou só atender uma ligação. Para saber do tempo, da vida, do cabelo, dos filhos, do que jantou na noite passada.
Por que mesmo é difícil ter amigos "de verdade" hoje em dia? Não, não é culpa da Internet nem do mundo. A culpa é minha e sua. E nossa culpa começa em querermos separar o que é verdade e o que é mentira. Porque o justo seria não haver mentiras e verdades e sim verdades aceitas e verdades não toleráveis. E mais justo que cada um escolhesse para si o que lhe convém.
Parecia mais fácil fazermos e mantermos amigos na infância porque não nos preocupávamos com coisas como distância e traição. Porque existiam cartas que sempre chegavam e verões que sempre voltavam. Porque existia fidelidade sem que ao menos soubéssemos o que ela significava. Porque ninguém ocupava o lugar de ninguém. Sabíamos esperar. Não tínhamos tanta pressa e não preenchíamos os espaços vazios com achismos ou caraminholas. Porque relógio, medo e futuro eram coisas de adulto. Assim como pensar demais e amar de menos.
Fonte e texto: Clic RBS - Renata Bezerra