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5 de setembro de 2011

Augusto Cury: transtornos psíquicos


Psiquiatra Augusto Cury ensina truques para encarar loucura do dia a dia

Especialista tem livros publicados em mais de 50 países

Encarando a plateia, microfone na mão, o palestrante provoca: 

— Quem de vocês acorda todos os dias cansado? E quem anda com problema de memória? 

A plateia, integrada quase que na totalidade de empresários, ergue as mãos em peso, em meio a risos por tamanha identificação. 

O autor da pergunta é o psiquiatra Augusto Cury, que lotou o Teatro do Sesi/Fiergs, no dia 25 de agosto, durante a Expoagas 2011, na Capital. Best-seller da autoajuda no mundo, Cury vendeu, no total, mais de 11 milhões de livros (como Nunca Desista de Seus Sonhos e Você É Insubstituível) em 50 países. Considerado um mestre da imodéstia, ele se apresenta como um cientista, o revolucionário criador de uma nova teoria sobre o funcionamento da mente humana — a inteligência multifocal, que pretende ensinar o leitor a controlar as “janelas "de sua memória. 

Com uma linguagem simples e tranquilidade envolvente, o psiquiatra conhece o terreno onde pisa. Suas palavras caem como uma luva para um público potencialmente estressado, para quem ele  alerta: cerca de 50% das pessoas vão desenvolver, cedo ou tarde, algum um transtorno psíquico. Para lidar com isso, ele sugere o treino e aperfeiçoamento de ferramentas para “desacelerar” os pensamentos. 

Em geral, andamos irritáveis, com dificuldades de concentração, fadiga excessiva, sono alterado, dificuldade de extrair prazer nos estímulos da rotina diária. Devemos usar nossa mente como ferramenta para expulsar cada pensamento negativo. Ela tem que agir como faz um advogado de defesa faz no fórum: gritar dentro de si, não aceitar o lixo psíquico, porque senão ele é  registrado e acaba estimulando os níveis de ansiedade — resume. 

Cury, membro de honra da Academia de Gênios do Instituto da Inteligência do Porto-Portugal e pós-graduado no Centre Medical Marmottan de Paris, falou com a Zero Hora. Confira trechos da entrevista.

Zero Hora – Em que mundo estamos vivendo?

Augusto Cury – Vivemos na era dos excessos. Excessos de compromisso, de pressão, de metas a cumprir e de consumo. Tudo isso é arquivado no córtex cerebral, alargando o centro da memória e estimulando os fenômenos que constroem cadeias de pensamento numa velocidade jamais vista.

ZH – O que o senhor recomenda para que possamos viver bem neste cenário?

Cury – Não é fácil ser tranquilo, ser contemplativo, mas é fundamental ser. Todos os dias devemos aprender a fazer muito do pouco, a extrair o máximo das pequenas coisas. Devemos gastar tempo falando com nossos filhos, observando a anatomia das flores, trocando experiências e saindo do superficialismo intelectual. Se não treinarmos nossa mente, precisaremos de grandes eventos para sentir migalhas de prazer e nos tornaremos miseráveis no território da emoção.

ZH – Dá para fazer isto sozinho?

Cury – Não necessariamente. Por exemplo, eu converso com um dos melhores jogadores do mundo por telefone quase todos os dias e tenho estimulado ele a virar mesa, a gerenciar seus pensamentos, a proteger suas emoções, a discordar das ideias de sentimento negativo, a discordas das emoções para que ele tenha flexibilidade e para que ele possa ser autor da sua própria história.

ZH – As pressões que a sociedade determina muitas vezes não dependem de nós. Como lidar com isso?

Cury – Não há dúvidas que a sociedade está doente, o sistema está doente e formando pessoas doentes. O adoecimento é coletivo. O normal é ser estressado, irritadiço, tenso e ansioso. O anormal é ser tranquilo, sereno, contemplativo. A maioria das pessoas não é proativa, não age de maneira preventiva. Estamos com dificuldades enormes de encontrar líderes. As pessoas têm medo de falar das suas mazelas. E estou gritando isso em mais de 50 países. É uma defesa doentia, são necessidades neuróticas de estar sempre certo, de almejar o poder, de não querer entrar em
contato com a sua própria realidade. De não olhar para si. Isso tudo conspira contra a tranquilidade. 

ZH – Pais exigem muito dos filhos, e muito cedo. Como não sobrecarregá-las? 

Cury – Uma criança de sete anos hoje tem uma agitação mental anormal, uma inquietação onde nada a satisfaz. Ela tem um aporte de informação muito maior do que os filósofos gregos tinham no auge da Grécia. Em síntese, a educação atual é superficial e produtora de ansiedade. Criança tem que brincar, sorrir, se aventurar, estimular prazer, inquietudes. E não serem submetidas a pressões injustas, inumanas, a avalanche de estímulos e cobranças excessivas.

Fonte e texto: Livia Meimes - livia.meimes@zerohora.com.br

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